quarta-feira, 14 de julho de 2010

Emily Dickinson


Emily Dickinson viveu entre 1813 e 1886. Sua poesia é considerada moderna e avançada para o seu tempo, mas críticos de sua época chegaram a desencorajá-la de publicar seus escritos. Isso fez com que poucos poemas de Emily fossem publicados durante sua vida e toda a sua obra é conhecida apenas de correspondências que mantinha com familiares e alguns amigos. Esses poemas foram organizados postumamente em vários volumes que divulgaram sua obra e a consagrou como um dos expoentes da poesia da língua inglesa.

A vida de Emily é igualmente polêmica igual sua obra. Seguindo um padrão de conduta feminina de Massachussets do Oitocentos, ela viveu praticamente reclusa, permitindo-se fazer poucas viagens e manter poucos contatos. Morreu sem casar, mas mesmo assim teve três paixões não correspondidas que inspirou vários de seus poemas de amor.

E. Dickinson 4

Acharemos o Cubo do Arco-Íris
Disso ninguém vai duvidar
Mas o Arco das Ideias de quem ama
Ninguém há de encontrar

Emily Dickinson

E. Dickinson 3

Em minha flor - fico escondida -
Para se ao peito levares
Sem que suspeites - tu me uses -
E o resto - os anjos sabem!

Em minha flor - fico escondida -
Para ao murchar em teu vaso
Sem que suspeites - por mim sintas
Quase que uma saudade.

Emily Dickinson

E. Dickinson 2

Noites Selvagens Noites de Fogo
e de Paixão
Se eu estivesse contigo elas seriam
Noites Selvagens Noites de Fogo
e Perdição

Emily Dickinson

terça-feira, 13 de julho de 2010

E. Dickinson

Se eu puder evitar que um Coração padeça
Não viverei em vão.
Se eu fizer que na Vida alguém esqueça
a Dor ou a Aflição

Ou se ajudar um Pássaro caído
A retornar ao Ninho
Não viverei em vão.

Emily Dickinson

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Décimas

Se amor vive além da morte,
Eterno o meu há-de ser:
Se amor dura só na vida
Hei de amar-te até morrer.

GLOSA

Que um peito, Anália, sensível,
Desses teus olhos ferido
Nao te caia aos pés rendido,
Me parece um impossível.
Antes só tenho por crível
Que todo a ti se transporte,
E te reste amor tão forte,
Em teu serviço jocundo,
Que te ame além do mundo
Se amor vive além da morte.

Por essa força atrativa
Que te pôs a natureza,
Minha alma antes ilesa
Já de si se vê cativa.
De amor numa chama viva
O peito sinto-me arder;
E se posso hoje prever
Os sucessos do futuro,
Entre os fogos de amor puro
Eterno o meu há de ser.

Mais forte que o gordiano,
É o nó que a ti me prende;
Fica certa que não fende
Da morte o ferro tirano;
Porque trazer-te-ei ufano
Num fundo d'alma esculpida,
Ou o nada reduzida
Deve ser a minha essência;
Que nego a sobrevivência
Se amor dura só na vida.

Em ambos suposições
Não és de mim separada;
Que me estás amalgamada
Da mente nas sensações;
E pois modificações
Só por si não pode ser,
Hás de eterna em mim vier,
Se eu tenho uma alma imortal;
Ou se ela é material,
Hei de amar-te até morrer.

Frei Caneca
(1779-1825)

Eu amo o gênio

Eu amo o gênio, cujo raio esplêndido
Tirou-me o pranto no pungir da dor;
Há sempre um gozo no correr das lágrimas,
Há sempre um riso no murchar da flor...

Vê-se no templo se elevar o incenso
Puro, expressivo que se queima aí;
E Deus aspira o matinal perfume
D'etéreas flores que espalhou em ti...

Quando, sublime de sofrer, m'alma
Rompe dos prantos o sombrio véu,
São glórias tuas, virginais desmaios,
Quedas de rosas nos jardins do céu.

E quem não sente clarear o sonho,
A idéia santa dum viver melhor?
E as harmonias dum amor que torna
A fronte altiva, o coração maior?

Na voz dos mares, na expressão dos ventos
Há um mistério de fazer pensar...
Nas forças d'alma, no poder do gênio
Há um segredo que me faz chorar...

Tobias Barreto
(1839-1889)

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Conversas

Momentos muito breves,
Por teus lábios cantados,
Tornam-se doces horas;
Minutos infinitos;
Retratos eternizados.

Salgueiro, março de 2010

J.R. Maciel

sábado, 1 de maio de 2010

O rio

Um dia te mostrei o rio.
Não era o Tejo,
Da janela da casa, apenas um fio.
Mas era alegre este rio.

Mostrei o rio,
dei flores,
dei este piso,
dei a loucura da cama quente.

Mas tu querias a lua,
e esta não pude dar.
Hoje há andaimes e homens
e o rio não posso olhar.

J.R. Maciel

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Dores

Tudo são dores.
Dores de um tempo que se falava mais.
Tempo que se ouvia mais.
Tempo que leva uma parte.
Tempo que já foi parte,
hoje se fragmenta num todo.

Mesmo passado, tudo são dores.
Mesmo que no tempo hajam flores.


J.R. Maciel

Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Cecília Meireles

A pombinha da mata

Três meninos na mata ouviram
uma pombinha gemer.

"Eu acho que ela está com fome",
disse o primeiro,
"e não tem nada para comer."

Três meninos na mata ouviram
uma pombinha carpir.

"Eu acho que ela ficou presa",
disse o segundo,
"e não sabe como fugir."

Três meninos na mata ouviram
uma pombinha gemer.

"Eu acho que ela está com saudade",
disse o terceiro,
"e com certeza vai morrer."


Cecília Meireles

Shiiilêncio

A necessidade do silêncio
Leva o dedo riste a boca
E não é o silêncio que procuro.

O dedo que chia na boca
Traz consigo
Batom vermelho-guelra.

Agora eu sei.
Dos afagos
O silêncio é o mais obsceno.

Flávio de Araújo

Água

Falar de ti
é falar de tudo o que passa
no alto dos ventos
na luz das acácias
é esquecer os caminhos
apagar o enredo
é pensar as formas do branco
como teu corpo numa praia
branda e azul
Tua pele não retém as horas
escorres, líquida
sonora

Francisco Alvim

sábado, 24 de abril de 2010

Se eu fosse apenas...

Se eu fosse apenas uma rosa,
com que prazer me desfolhava,
já que a vida é tão dolorosa
e não te sei dizer mais nada!

Se eu fosse apenas água ou vento,
com que prazer me desfaria,
como em teu próprio pensamento
vais desfazendo a minha vida!

Perdoa-me causar-te a mágoa
desta humana, amarga demora!
– de ser menos breve do que a água,
mais durável que o vento e a rosa...

Cecília Meireles

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Quando

Quando sentes uma dor no peito,
Um amargo adocicado;
Quando sentes horas lentas,
Um arrastar descompassado;

Quando sentes um frio estranho,
E um calor emaranhado;
Quando sentes desejo de presença,
E um pensar mais demorado.

Quando o leito é espaçoso;
Quando o tempo é inexistente;
Quando se sonha acordado;


Quando se faz impaciente;
Este querer apaixonado
Quanto maior é insuficiente.


J.R. Maciel

Soneto de amor e ódio

Um dia
disse,
que foi
Alice.

Noutro
Analice,
Maria e
Doralice.

Em termos
todas
amou;

em términos
algumas
odiou.


J.R. Maciel

A hora do cansaço

As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nós cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gosto ocre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

Carlos Drummond de Andrade

Amor

O ser busca o outro ser, e ao conhecê-lo
acha a razão de ser, já dividido.
São dois em um: amor, sublime selo
que à vida imprime cor, graça e sentido.

"Amor" - eu disse - e floriu uma rosa
embalsamando a tarde melodiosa
no canto mais oculto do jardim,
mas seu perfume não chegou a mim.

Carlos Drummond de Andrade

Inconfesso Desejo

Queria ter coragem
Para falar deste segredo
Queria poder declarar ao mundo
Este amor
Não me falta vontade
Não me falta desejo
Você é minha vontade
Meu maior desejo
Queria poder gritar
Esta loucura saudável
Que é estar em teus braços
Perdido pelos teus beijos
Sentindo-me louco de desejo
Queria recitar versos
Cantar aos quatros ventos
As palavras que brotam
Você é a inspiração
Minha motivação
Queria falar dos sonhos
Dizer os meus secretos desejos
Que é largar tudo
Para viver com você
Este inconfesso desejo

Carlos Drummond de Andrade